15 de out. de 2008

Elocubrações

18+19=10=1


Ou seja, a Lua, mais com o Sol, é igual à Roda.

Que é igual ao Mago.

O Homem, à imagem e semelhança de Deus.

A unidade contida na totalidade, e vice-versa.

Wallpaper: Sunrise in Machu Pichu


Esta é uma bela imagem da Trindade,
o Triângulo Mágico da Vida, na sábia observação primitiva.
Clique na imagem!

12 de out. de 2008

"Sabedoria de Síntese"


"... quatro virtudes decalcadas dos signos fixos e concretizadas mediante as isntituições a elas diretamente vinculadas: Ciência, Filosofia (ou Religião), Arte e Didática."

"Luz, Vida e Criação reunidos estão no Logos, conforme se lê na abertura do Evangelho de São João..."

"Em suma, é esta grande experiência dimensional que se acha implicada na realização da Cruz Fixa dos quatro elementos, na medida em que, através de sua consumação, o discípulo ou o Iniciado aprende a dominar a esfera do tempo e a fixar as energias em seu próprio ser, tornando-se um centro atemporal - da mesma forma que na Cruz Mutável o iniciante realiza sua adaptação a um espaço sagrado."

"Para a realização efetiva desta fixação consciencial existem muitas técnicas diferentes, mas todas se resumem na adoção de uma imagem sagrada profunda e definitivamente vinculada ao Dharma atual, ou destino vivo, isto é, a integração do destino, tanto individual quanto coletivo, a um só tempo, já que a característica da esfera da alma é não efetuar distinções entre o Eu e o Outro. Isto representa, pois, a manifestaçaão da nobreza por parte do indivíduo, razão pela qual encontramos na Cruz-Fixa as quatro grandes estrelas tidas pelos persas como "Estrelas Reais": Aldebaran (Taurus), Regulus (Leo), Antares (Escorpius) e Fomalhaut (Aquarius)"

"... sucessivos degraus que conduzem através do universo da alma..."

"...esta cruz se encontra profundamente vinculada aos Mistérios Menores. Sua natureza corresponde ao próprio enigma da Esfinge, guardiã das Pirâmides, as quais, por sua vez, correspondem aos Mistérios Maiores. Da resolução deste enigma dependia o acesso dos postulantes às criptas iniciáticas que se encotravam no seu interior, e que os conduzia até o próprio coração da Pirâmide."


(Luís Augusto Weber Salvi, em: Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida, Universidade Agharta, Porto Alegre)

9 de out. de 2008

"O Movimento Circular e o Centro"



(Texto extraído do livro “O Segredo da flor de Ouro” – C.G. Jung e R. Wilhelm - Vozes - 1971)

A união dos opostos num nível mais alto da consciência, como já mencionamos, não é uma questão racional e muito menos uma questão de vontade, mas um processo de desenvolvimento psíquico, que se exprime em símbolos. Historicamente, este processo sempre foi representado através de símbolos e ainda hoje o desenvolvimento da personalidade individual é figurado mediante imagens simbólicas. Tais fatos se me apresentaram da seguinte maneira: os produtos das fantasias espontâneas, de que tratamos acima, se aprofundavam e se concentravam progressivamente em torno de formações abstratas, que parecem representar “princípios”, no sentido dos “archai” gnósticos. Quando as fantasias tomam a forma de pensamentos, emergem formulações intuitivas de leis ou princípios obscuramente pressentidos, que logo tendem a ser dramatizados ou personificados.

Se as fantasias forem desenhadas, comparecem símbolos que pertencem principalmente ao tipo do “mandala”. Mandala significa círculo e particularmente círculo mágico. Os mandalas não se difundiram somente através do oriente, mas também são encontrados entre nós. A Idade Média e em especial a baixa Idade Média é rica de mandalas cristãos. Em geral o Cristo é figurado no centro e os quatro evangelistas ou seus símbolos, nos pontos cardeais. Esta concepção deve ser muito antiga, porquanto Horus e seus quatro filhos foram representados da mesma forma, entre os egípcios. (Como se sabe, Horus e seus quatro filhos têm uma relação estreita com Cristo e aos quatro evangelistas). Mais tarde, encontramos um inegável e interessante mandala em Jacob Boheme, em seu livro sobre a alma. É evidente que ele representa um sistema psicocósmico, de forte coloração cristã. É o “olho filosófico”, ou o “espelho da sabedoria”, denominações estas que mostram de modo claro tratar-se de uma summa de sabedoria secreta. A maioria dos mandalas tem a forma o quatérnio, o que lembra o número básico: a tetraktys de uma flor, de uma cruz ou roda, tendendo nitidamente para pitagórica. Entre os índios Pueblo os mandalas são desenhados na areia, para uso ritual. Entretanto, os mandalas mais belos são os do budismo tibetano. Os símbolos de nosso texto acham-se representados nesses mandalas. Encontrei também desenhos mandálicos entre doentes mentais, entre pessoas que certamente não tinham qualquer ideia das conexões aqui mencionadas. Algumas de minhas pacientes de sexo feminino não desenhavam, mas dançavam mandalas. Na Índia, isto se chama: mandala nritya, que significa dança mandálica. As figurações da dança têm o mesmo sentido que as do desenho. Os próprios pacientes quase nada podem dizer acerca do sentido simbólico dos mandalas, mas se sentem fascinados por eles. Reconhecem que exprimem algo e que atuam sobre seu estado anímico subjetivo.

Nosso texto promete “revelar o segredo da Flor de Ouro do grande Uno”. A flor de ouro é a luz, e a luz do céu é o Tao. A flor de outro é um símbolo mandálico que já tenho encontrado muitas vezes nos desenhos de meus pacientes. Ela é desenhada a modo de um ornamento geometricamente ordenado, ou então como uma flor crescendo da planta. Esta última na maioria dos casos é uma formação que irrompe do “fundo da obscuridade, em cores luminosas e incandescentes, desabrochando no alto sua flor de luz (num símbolo semelhante ao da árvore de Natal). Tais desenhos exprimem o nascimento da flor de outro, pois, segundo o Hui Ming Ging, a “vesícula germinal” é o “castelo de cor amarela”, o “coração celeste”, os “terraços da vitalidade”, o “campo de uma polegada da casa de um pé”, a “sala purpúrea da cidade de jade”, a “passagem escura”, o “espaço do céu primeiro”, o “castelo do dragão no fundo do mar”. Ela é também chamada a “região fronteiriça das montanhas de neve”, a “passagem primordial”, o “reino da suprema alegria”, o “país sem fronteiras” e o “altar sobre o qual consciência e vida são criadas”. “Se o agonizante não conhecer este lugar germinal”, diz o Hui Ming Ging, “não encontrará a unidade de consciência e vida nem mesmo em mil nascimentos, ou dez mil eons”.

O princípio, no qual tudo ainda é um e que portanto parece ser a meta mais alta, jaz no fundo do mar, na escuridão do inconsciente. Na vesícula germinal, consciência e vida (ou “essência”e “vida”, isto é, sing-ming) são ainda “uma só unidade”, “inseparavelmente misturada como a semente do fogo no forno da purificação”. “Dentro da vesícula germinal está o fogo do soberano”. “Todos os sábios começaram a sua obra pela vesícula germinal”. Notem-se as analogias com o fogo. Conheço uma série de desenhos de mandalas europeus, onde aparece uma espécie de semente vegetal envolta em membranas, flutuando na água. A partir do fundo, o fogo sobe e penetra a semente, incubando-a de tal modo, que uma grande flor de ouro cresce da vesícula germinal. Esta flor simbólica refere-se a uma espécie de processo alquímico de purificação e de enobrecimento; a escuridão gera a luz e à partir do “chumbo da região da água” cresce o ouro nobre; o inconsciente torna-se consciente, mediante um processo de vida e crescimento. (Em total analogia com isto, lembremos a Kundalini da Ioga hindu). Desse modo se processa a unificação de consciência e vida.

Quando meus pacientes projetam tais imagens, não o fazem sob sugestão; elas ocorriam muito antes que eu conhecesse seu significado ou suas relações com as práticas do oriente. Essas imagens brotam espontaneamente de suas fontes. Uma delas é o inconsciente, que produz de modo natural fantasias dessa espécie. A outra fonte é a vida que, quando vivida com plena devoção, proporciona um pressentimento do si-mesmo, da própria essência individual. Ao expressar-se esta última nos desenhos, o inconsciente reforça a atitude de devoção à vida. De acordo com a concepção oriental, o símbolo mandálico não é apenas expressão, mas também atuação. Ele atua sobre seu próprio autor. Oculta-se neste símbolo uma antiquíssima atuação mágica, cuja origem é o “círculo de proteção”, ou “círculo encantado”, cuja magia foi preservada em numerosos costumes populares. A meta evidente da imagem é traçar um “sulcus primigenius”, um sulco mágico em redor do centro, que é o templo ou temenos (área sagrada) da personalidade mais íntima, a fim de evitar uma possível “efluxão”ou preservá-la, por meios apotropaicos, de uma eventual distração devido a fatores externos. As práticas mágicas não são mais do que projeções de acontecimentos anímicos, que refluem sobre a alma como uma espécie de encantamento da própria personalidade, isto é, o refluxo da atenção apoiada e mediada por um grafismo. Em outras palavras, é a participação de uma área sagrada interior, que é a origem e a meta da alma. É ela que contém a unidade de vida e consciência, anteriormente possuída, depois perdida, e de novo reencontrada.

A unidade de vida e consciência é o Tao, cujo símbolo, a luz branca central, é semelhante à que é mencionada no Bardo Todol. Esta luz habita na “polegada quadrada”, no “rosto”, isto é, entre os dois olhos. Trata-se da visualização do “ponto criativo”, cuja intensidade é desprovida de extensão, e que deve ser pensada juntamente com o espaço da “polegada quadrada”, símbolo daquilo que tem extensão. Ambos reunidos são o Tao. A essência ou consciência (sing) se exprime mediante o simbolismo da luz e representa a intensidade. A vida (ming) deverá pois coincidir com a extensão. O caráter da primeira é yang, enquanto que o da segunda é yin. A mandala já mencionada de uma jovem sonâmbula de quinze anos, que observei há trinta anos, tem no centro uma “fonte de energia da vida” sem extensão, cuja emanação espontânea colide com um princípio espacial oposto, em perfeita analogia com a idéia fundamental do texto chinês. O “aproximar-se circundando”, ou “circumambulatio”, exprime-se, em nosso texto, através da ideia de “circulação”. Esta última não significa apenas o movimento em círculo, mas a delimitação de uma área sagrada por um lado e, por outro, a ideia de fixação e concentração; a roda do sol começa a girar, isto é, o sol é vivificado e inicia seu caminho; em outras palavras, o Tao começa a atuar e assume a direção. A ação converte-se em não-ação; tudo o que é periférico é subordinado à ordem que provém do centro. Por isso se diz: “O movimento é outro nome para significar domínio”. Psicologicamente, a circulação seria o ato de “mover-se em círculo em torno de si mesmo”, de modo que todos os lados da personalidade sejam envolvidos. “Os pólos de luz e de sombra entram no movimento circular”, isto é, há uma alternância de dia e noite.

“A claridade do paraíso se alterna com a mais profunda e terrível das noites”. O movimento circular também tem o significado moral da vivificação de todas as forças luminosas e obscuras da natureza humana, arrastando com elas todos os pares de opostos psicológicos, quaisquer que sejam. Isto significa autoconhecimento através da auto-incubação (o “tapas” hindu). Uma representação originária e análoga do ser perfeito é o homem redondo de Platão, que reúne os dois sexos. Encontramos um dos paralelos mais impressionantes em relação ao que acabamos de dizer, na descrição que EDWARD MAITLAND, colaborador de ANNA KINGSFORD, esboçou acerca de sua experiência central. Na medida do possível usarei suas próprias palavras. Ele descobrira que ao refletir sobre uma ideia, era como se ideias afins ganhassem viabilidade, em longas séries. Aparentemente, remontavam até sua fonte e esta, para ele, era o espírito divino. Concentrando-se nessas séries, ele tentou avançar até sua origem.“Eu não dispunha de qualquer conhecimento, nem tinha qualquer expectativa quando me decidi a fazer esta experiência. Simplesmente, estava cônscio dessa capacidade... sentado à minha escrivaninha, pronto para anotar os acontecimentos segundo as séries em que se sucediam. Resolvi manter a consciência externa e periférica, sem preocupar-me com o distanciamento de minha consciência interna e central. Não sabia se poderia voltar à primeira, caso a deixasse, nem se poderia lembrar-me dos acontecimentos experimentados. Mas finalmente o consegui, com um grande esforço; a tensão provocada pelo esforço de manter os dois extremos da consciência ao mesmo tempo era considerável! No começo senti como se estivesse subindo uma longa escadaria, da periferia para o ponto cósmico, o solar e o meu próprio. Os três sistemas eram diversos e, ao mesmo tempo, idênticos... Finalmente, num último esforço... consegui concentrar os raios de minha consciência no foco almejado. Nesse instante, como se uma repentina combustão fundisse todos os raios numa unidade, ergueu-se diante de mim uma prodigiosa, inefável luz branca e brilhante cuja força era tão intensa que quase caí para trás... Sabendo intimamente que não era necessário perscrutar além dela, decidi certificar-me de novo; tentei atravessar esse brilho que quase me cegava, a fim de ver o que continha. Com grande esforço o consegui... Era a dualidade do Filho... o oculto tornara-se manifesto, o indefinido, definido, o não-individuado, individuado: Deus como Senhor, que prova através de sua dualidade, que é substância e força, amor e vontade, feminino e masculino, mãe e pai”. Assim, ele considerou Deus como dois em um, da mesma forma que o homem. Além disso, observou algo que é sublinhado em nosso texto, isto é, a “suspensão da respiração”. Afirma que a respiração comum cessa, dando lugar a uma respiração interna, como se outra pessoa, alheia a seu organismo físico, respirasse por ele. Acrescenta que tal ser poderia consubstanciar a “enteléquia” de Aristóteles, ou o “Cristo interno” do apóstolo Paulo, “a individualidade espiritual e substancial engendrada dentro da personalidade física e fenomênica representando, portanto, o renascimento do homem num plano transcendental”. Esta experiência autêntica contém todos os símbolos essenciais do nosso texto. O próprio fenômeno, isto é, a visão da luz, é uma experiência comum a muitos místicos, e indubitavelmente muito significativa, pois em todas as épocas e lugares compareceu como o incondicionado, reunindo em si a maior força e o sentido mais profundo.

HILDEGARD VON BINGEN, personalidade significativa (mesmo deixando de lado sua mística), escreve acerca de uma visão central que teve bem semelhante à experiência acima citada: “Desde minha infância”, diz ela, “vejo constantemente uma luz em minha alma, mas não com o olhar externo, ou através dos pensamentos do coração; os cinco sentidos também não tomam parte nesta visão. A luz que percebo não se localiza, mas é muito mais clara do que uma nuvem transpassada pelo sol. Não consigo distinguir nela nem altura, nem largura ou comprimento... O que vejo e aprendo nessa visão perdura por muito tempo em minha memória. Vejo, ouço e sei ao mesmo tempo, e aprendo o que sei num instante... Não reconheço nenhuma forma nesta luz, se bem que de vez em quando nela vejo outra luz que, para mim, se chama a luz viva... enquanto a contemplo me rejubilo, e toda a dor e tristeza se desvanecem na minha memória...”

Por minha parte, conheço poucas pessoas que tiveram tais vivencias por experiência direta. Na medida em que posso alcançar um fenômeno deste tipo, acho que se trata de um estado de consciência agudo, intenso e abstrato, de uma consciência “isenta” (v. abaixo) como HILDEGARD indica, tal estado permite a conscientização de campos do acontecer anímico, que de outro modo ficariam encobertos pelo obscuro. O fato de que em conexão com tal experiência haja um desaparecimento freqüente das sensações gerais do corpo, indica que é retirada destas últimas suas energias específica; provavelmente, mediante sua transformação, a lucidez da consciência é exaltada. De um modo geral, o fenômeno é espontâneo, aparecendo ou desaparecendo por impulso próprio. Seu efeito é espantoso e quase sempre soluciona complicações anímicas, liberando a personalidade interna de confusões emocionais e intelectuais, e criando assim uma unidade de ser, experimentada em geral como uma “liberação”. A vontade consciente não pode alcançar uma tal unidade simbólica, uma vez que a consciência, nesse caso, é apenas uma das partes. Seu opositor é o inconsciente coletivo que não compreende a linguagem da consciência. É necessário contar com a magia dos símbolos atuantes, portadores das analogias primitivas que falam ao inconsciente. Só através do símbolo o inconsciente pode ser atingido e expresso; este é o motivo pelo qual a individuação não pode, de forma alguma, prescindir do símbolo. Este, por um lado, representa uma expressão primitiva do inconsciente e, por outro, é uma ideia que corresponde ao mais alto pressentimento da consciência.

O desenho mandálico mais antigo que conheço é a “roda do sol” paleolítica, recentemente descoberta na Rodésia. Ela também se baseia no número quatro. Sinais que remontam a uma tal antiguidade da história humana repousam naturalmente, nas camadas mais profundas do inconscientes e são captados lá, onde a linguagem consciente se revela de uma impotência total. Tais realidades não devem servir de campo para a imaginação, mas sim crescer novamente das profundezas obscuras do esquecimento, a fim de expressar os pressentimentos extremos da consciência, e a intuição mais alta do espírito: assim se funde a unidade da consciência presente com o passado originário da vida.

5 de out. de 2008

1+2+3+4=10 - A Esfinge que Preside o Arcano da Roda

A missão de Virgílio, representação da Razão Humana, é concluída. Cumpriu sua tarefa: o poeta foi confrontado pelo fogo eterno da danação no Inferno e pelo fogo temporal e purificador dos eleitos no purgatório.
"E ele disse; 'Filho, vistes o fogo temporal
E o fogo eterno; ora, chegamos ao lugar
Onde eu mais não distingüo.'
O poeta, na entrada do Paraíso Terrestre, é assim dotado de quatro atributos essenciais para prosseguir o seu percurso: o Sol do Espírito brilha na sua fonte, dispõe de um livre-arbítrio, como as almas que se purificaram no purgatório, e finalmente, a "coroa e a mitra". Estas, são símbolos dos poderes temporais e espirituais, mas podem ser interpretados esotericamente como os dois selos do Iniciado, representando o duplo domínio do material e do espiritual.
No textos do Apocalipse, na visão de João, Ezequiel e Dante, o Trono Divino aparece rodeado por quatro "seres viventes", coroados de verde folhagem, na visão de Dante. Essa referência ao reino vegetal, introduzida por Dante, nos remete à Árvore da vida, outra representação da cruz, e um dos símbolos alquímico mais sintéticos. Afinal, não são as árvores alquimistas inigualáveis, transformando elementos brutos em puro mel? Os "quatro viventes", símbolos da universalidade da presença divina, associados ao quatro evangelistas portadores da mensagem de Cristo, na perspectiva hermética representam a combinação das energias relacionadas com cada um dos quatro elementos e à obra no micro e macrocosmos.
O Ar, associado à Águia de São João, representa as energias de comunicação entre o Céu e a Terra (a árvore, que sulca a terra com suas raízes na mesma proporção que lança suas galhas para o céu) e as energias intelectuais; o Fogo, associada ao Leão de Marcos, representa as energias dinâmicas e físicas que emanam da divindade e, com isso, as forças fecundantes e regeneradoras (o processo de fotossíntese, que se vale da energia solar para metabolizar a matéria bruta); a Terra, associada ao Touro de Lucas, representa a "matéria-prima", provedora da forma e energias de concretização das forças do Espírito ao seio da Matéria (o enraizamento, ancoramento, que permite que se cresça verticalmente); e, por fim, a Água, associada ao Anjo de Mateus, representando as energias livres, ligadas porém às forças instintivas e aos sentimentos, constituindo também um símbolo de vitalidade e fecundidade (a seiva, elemento de ligação, solução universal: o inconsciente coletivo, manancial de vida e substrato comum).
Observa-se que o Ar e o Fogo são tradicionalmente considerados elementos masculinos e ativos, e a Água e a Terra, femininos e passivos.
Esses atributos estão constelados de forma condensada na Cruz Fixa dos elementos, composta pelos signos zoodiacais: Touro, Leão, Escorpião e Aquário, o apogeu das quatro estações (no hemisfério norte), Primavera, Verão, Outono e Inverno.

3 de out. de 2008

O Número, a Ordem em Tudo

De fato, toda a arquitetura da Divina Comédia é construída sobre combinações numéricas cabalistas. O poeta se refere à esse ordenamento na famosa citação:
"Ó homens que não podeis ver o sentido deste poema (canzone), no entanto, não o rejeites; mas observai sua beleza que é grande, seja pela construção, no que diz respeito aos gramáticos; seja pela ordem do discurso, no que diz respeito aos retóricos, e, seja pelo número de suas partes, no que concerne aos músicos."
Como sabemos, a música, assim como a arquitetura, a matemática, etc, nasceu como uma ciência mágica, resumindo em suas proporções as leis imutáveis da criação. Mesmo vulgarizada, nos tempos atuais, a música ainda preserva o encanto arcaico, pois ela sintetiza símbolos que podem ser percebidos tanto intelectualmente quanto emocionalmente pelo homem, integrando o objetivo e o subjetivo em simbiose perfeita.
E, por trás desse ordenamento, herança histórica, perfila-se todo o procedimento cabalista, confrontado na perspectiva do Hermetismo Cristão.

(Ver mais em: Dante, O Grande Iniciado - Uma Mensagem para os Tempos Futuros)
“ Assim estava eu com aquela nova visão:
Queria ver como a imagem no círculo
Podia reunir-se, e como nele perdura;
Mas para esse vôo não bastavam minhas asas:
Quando meu espírito foi atingido por um raio
Que seu desejo queria cumprir.”

(Versos D´A Divina Comédia, extraídos do último Canto do Paraíso)

O número 10 estrutura o Paraíso dantesco em seu conjunto, ao redor das Dez Ciências, que são: Gramática, Dialética, Retórica, Aritmética, Música, Geometria, Astrologia, Física e Metafísica (juntas), Filosofia (moral), e, finalmente, a ciência de Deus, a Ciência Suprema.
De fato, este número encarna o “Poder Divino” no seio da Matéria, sob a forma destas ciências, ou princípios.
A letra Yod possui a caracteística de ser a décima letra do alfabeto hebraico e possuir o mesmo valor numerológico. Trata-se do ‘germe divino’ símbolo da presença que age e irradia ao seio do mundo criado.
Essa mesma letra é associada à 20ª senda da Árvore da Vida, que liga a sefirá Hesed, “ a Graça”, lugar de vivificação e do florescimento pela bondade e misericórdia de Deus, a Tiferet, “ a Beleza”, lugar de unificação de todas as emanações sefiróticas, no qual todas as forças emocionais da almase reúnem em um ponto de fusão e de harmonia, para a edificação do “eu” pessoal. Essa senda, denominada " Consciência da Vontade" ou "Inteligência da Vontade", permite ao "eu" e sua expressão pessoal afinar à Vontade Divina, e assim o ser pode participar dos planos cósmicos da criação, movido por um poder superior. Isso traduz a visão da harmonização das esferas do Virgílio dantesco, citado na postagem anterior.

"...encaixar meu desejo no desejo do acontecimento... A liberdade nasce antes de tudo de uma submissão." (Viviane Mosé, filósofa e poetisa contemporânea)

Devemos frisar que esse arcano encarna a roda do Destino e lei do Carma. O aspirante no caminho, como o fez Dante, deve alcançar o "Centro" para compreender o sentido de sua existência e desenvolvimento no plano material e terrestre. Esse "Centro" simboliza a tomada de consciência dessas leis imutáveis e diretoras. Ele está situado no mais profundo do ser. Dante coloca em cena essa "descoberta" da unicidade entre o micro e o macrocosmos nos versos citados no início do texto. Giuseppe Vandelli, comentarista italiano de Dante, define em termos da Fé Cristã o sentido dos versos do poeta que descreve: "como a natureza humana, finita, e a natureza divina, infinita (simbolizada pelo círculo), podem no Cristo formar um todo.
A aceitação do agora faz o homem forte, faz com que se supere, através de sua criatividade - ou, autotranscendência.

2 de out. de 2008

A Roda da Fortuna



Este arcano porta o número 10, que, do ponto de vista cabalista simboliza a Totalidade posta em movimento. Associa-se à letra hebraica Yod, símbolo da Manifestação, e, segundo a bela expressão de Virya, em seu Lumiéres sur la Kabbale:

" ...o núcleo espiritual da individualidade sujeito ao movimento da eternidade."

Na perspectiva do Hermetismo Cristão, simboliza a Onipotência Divina, representada no seio da Matéria e expressando-se em leis e princípios inelutáveis, como Dante testemunha atento em sua Divina Comédia, através das palavras de seu mestre e guia, Virgílio:

"Girando em vosso redor os céus vos chamam

Mostrando-vos sua eterna beleza;

Mas da terra seus olhos não se separam.

E por isso vos aflige aquele que tudo conhece."

"Chiamavi 'l cielo e 'ntorno vi si gira..." diz o texto em italiano popular, que podemos também traduzir assim: Atrai-vos o céu e em vosso redor gira...

Outras Representações de Gaia


1 de out. de 2008

A Grande Experiência Dimensional da Cruz


Utilizada, vulgarmente, por muitos como símbolo de conflito e penar, ao meu ver a Cruz é o aqui e agora, o estar presente. Me fascina seu poder de síntese - união dos Quatro Elementos que constituem a Matéria, Terra, Fogo, Água e Ar. meditem um pouco sobre a figura ao lado... Nela, tudo é oposição, e tudo é reunião. É a imagem do homem realizado: centralizado, porém aberto. Inscrita dentro de um círculo, traçado ou implícito, a cruz de braços iguais é uma das representações mais arcaicas da imagem humana. Símbolo egípicio de Gaia, o signo ao lado liga-se também à imagem da Roda da Fortuna, o décimo dos Arcanos Maiores do Tarot, símbolo da transformação profunda do Iniciado, que o faz descobrir a via do justo meio entre queda e progressão.

Poder de Enfrentamento das Contradições = Sabedoria de Síntese!


30 de set. de 2008

A Arte imita a Natureza, diz um lema alquímico. O trabalho dos alquimistas em seu laboratório era acelerar, ou fazer dentro de condições controladas (laboratoriais), aquilo que a natureza demoraria anos para fazer. A analogia com a psicoterapia aqui já se delineia: a “individuação” favorecida pela análise para revisão de costumeiras formas de ser e criação de novas perspectivas.
Unus Mundus, um senso de totalidade. A alquimia trabalha com relações entre macro e microcosmo, separações precisas entre externo e interno não fazem parte do olhar alquímico, sujeito e objeto estão em absoluta relação; e mais, a alquimia tem lugar para uma linguagem imagética, simbólica, uma linguagem que está a serviço de conexões. Exatamente por estes quesitos tornou-se objeto de interesse de Jung, uma mina de simbolismo: os símbolos alquímicos sendo semelhantes aos símbolos de nossos sonhos, fantasias, dos mitos, das artes. Expressando portanto as profundidades da alma humana, onde somos todos semelhantes.
Justamente pela visão de mundo alquímica não estabelecer separações entre sujeito e objeto torna-se evidente que ao falar das transmutações da matéria ele também falava do processo de transformação que nele ocorria, isso era fato. Por não ter conhecimento exato
da matéria esta tornava-se um espelho para o que ocorria em sua alma. O alquimista descreve, de forma imagética, o processo de transformação que ocorria nele e nos indivíduos.
"A alquimia é uma ciência natural que representa uma tentativa de entendimento de fenômenos materiais de natureza; é um misto da física e da química desses tempos remotos e corresponde à atitude mental consciente daqueles que a estudaram e se concentraram no mistério da natureza, em especial dos fenômenos materiais. Também é o princípio de uma ciência empírica.”
Nasce como uma ciência natural que busca a compreensão da própria natureza a partir de uma especulação filosófica, como se pode ver já na filosofia pré-socrática no século VI a C. É dela que nasce o conceito de prima matéria a partir da crença de que o mundo tinha origem em uma única substância que era subdividida nos quatro elementos terra, ar, fogo e água, os quais, segundo diferentes recomposições faziam surgir todos os objetos físicos existentes no universo. Esta idéia, a prima matéria, teve sua evolução chegando com Aristóteles a ser considerada como pura potencialidade, que em seguida adquire forma, quando é atualizada na realidade.
O significado metafórico da alquimia para Jung poderia ser visto nesta suas palavras:
“O problema central da psicologia é a integração dos opostos.”
É a partir do processo de individuação que é possível compreender a presença difusa dos recursos ao simbolismo alquímico nos escritos de Jung, a partir dos anos trinta. É preciso dizer que o uso das imagens dos alquimistas (entendidas também muitas vezes em sentido próprio, ou seja como figura) e entre estas, algumas preferidas: a água, as centelhas, o redondo, o lápis, a árvore, etc, não acontece na ótica de explicações reducionistas, mas no contexto de amplificação nas quais entre os materiais oníricos e os produtos da imaginação ativa e as imagens dos alquimistas se estabelece uma circularidade ou reverberação de significados. Jung faz uma leitura que adentra na história mas não é uma leitura propriamente histórica do fenômeno alquímico. O "mistério" da alquimia na compreensão de Jung consiste na afirmação clara do caráter simbólico da coniunctio alquímica na qual propriamente reside a possibilidade de utilizá-la como termo de confronto real
( realidade objetiva, externa) e como instrumento de compreensão e de comunicação para as manifestações do inconsciente coletivo na psique individual.
Jung, a partir de seu trabalho de comparação, foi o primeiro a mostrar que o simbolismo alquímico conserva ainda hoje um significado vital, e que a verdade dos antigos alquimistas lançam luzes sobre fatos e processos descobertos no âmbito de uma psicologia marcadamente empírica. É assim que todos os estágios psíquicos ligados ao processo de individuação podem ser vistos ricamente a partir dos estágios alquímicos, a começar pelo próprio processo de análise visto como um todo:
"O encontro de duas personalidades é semelhante à mistura de duas diferentes substâncias químicas: uma ligação pode a ambas transformar."

(Fonte: http://www.symbolon.com.br/index2.htm)
"A alquimia representa a projeção em laboratório de um drama ao mesmo tempo cósmico e psicológico."

(C.G.Jung)