21 de fev. de 2010

O Observador


Tão longe quanto as minhas recordações podem ir,
sempre soube distinguir as cores, o azul, o vermelho, o amarelo.
A minha vista via-as, tinha a experiência latente.
Claro, a minha vista não fazia interrogações a respeito delas,
e aliás como poderia fazer interrogações?
A sua função é ver, não a de se ver na função de ver,
mas o meu próprio cérebro estava como que adormecido,
não era de forma nenhuma o olho do olho,
mas um simples prolongamento desse órgão.
Portanto, eu dizia simplesmente, e quase sem pensar:
isto é um belo vermelho, um verde um pouco apagado, um branco brilhante.
Um dia, há alguns anos, ao passear pelas vinhas das encostas que dominam o lago
Leman e que formam um dos mais belos locais do mundo,
tão belo mesmo e tão vasto que o Eu, à força de ali ser dilatado,
se sente dissolvido e, bruscamente, se reapossa de si próprio e se exalta,
deu-se um súbito e para mim extraordinário acontecimento.
O ocre da encosta abrupta, o azul do lago, o roxo dos montes de Sabóia,
e ao fundo as geleiras resplandecentes do Grand-Combin, vira-os eu cem vezes.
Soube pela primeira vez que nunca os olhara. No entanto vivia há três meses.
E, claro, desde o primeiro instante, aquela paisagem deslumbrara-me,
mas o que em mim lhe respondia não era mais que uma exaltação confusa.
Claro, o Eu do filósofo é mais forte que todas as paisagens.
O sentimento angustiante de beleza não passa de um assenhoreamento pelo Eu,
que se fortifica, da distância infinita que dela nos separa.
Mas naquele dia, bruscamente, soube que eu próprio criava aquela paisagem,
que ela nada era sem mim: Sou eu que te vejo, e que me vejo a ver-te, e que, ao ver-me, te faço.
Este verdadeiro grito interior é o grito do demiurgo quando da sua criação do mundo.
Não é apenas a suspensão de um antigo mundo, mas a projeção de um novo.
E nesse momento, de fato, o mundo foi recriado. Nunca eu vira semelhantes cores.
Eram cem vezes mais intensas, mais matizadas, mais vivas.
Senti que acabava de adquirir o sentido das cores, que interpretava as cores,
que nunca até ali vira realmente um quadro ou penetrara no universo da pintura.
Mas soube igualmente que, por esse chamamento da minha consciência,
por essa percepção da minha percepção,
conseguira a chave desse mundo da transfiguração que não é outro mundo misterioso,
mas o verdadeiro mundo, aquele de que a natureza nos conserva exilados.
Nada de comum, evidentemente, com a atenção.
A transfiguração é completa, a atenção não.
A transfiguração conhece-se na sua suficiência certa,
a atenção tende para uma suficiência eventual.
Não se pode dizer, evidentemente, que a atenção seja vazia.
Pelo contrário, é não-vazia. Mas o não-vazio não é a plenitude.
Quando regressei à aldeia, nesse dia, as pessoas com que me cruzava
estavam na sua maior parte atentas ao trabalho:
no entanto todas me pareceram sonâmbulas.

- Raymond Abellio:
Cahiers du Cercle d'Études -

http://www.alexgrey.com/

10 de fev. de 2010

Nasce o Poeta

- 12. Nova Visão -


Zen Tarot Card

Quando você se abre para o supremo, imediatamente ele se derrama dentro de você. Você já não é mais um ser humano comum - você transcendeu. Seu insight transformou-se no insight da existência como um todo. Agora, você não é mais um ser à parte - você encontrou as suas raízes. Não sendo assim - o que é o mais comum -, as pessoas vão vivendo sem raízes, sem saber de onde o seu coração continua recebendo energia, sem saber quem continua respirando em seu interior, sem conhecer a seiva da vida que está circulando dentro delas. Não se trata do corpo, e não se trata da mente - é alguma coisa transcendental a todas as dualidades, que se denomina bhagavat - o bhagavat nas dez direções... O seu ser interior, quando se abre, vivencia inicialmente duas direções: a altura e a profundidade. Depois, devagarinho, à medida que vai se acostumando com essa situação, você começa a olhar em volta, estendendo-se em todas as outras oito direções. Quando você alcançar o ponto em que a sua altura e a sua profundidade se encontram, então, você poderá olhar em volta, para a própria circunferência do universo. A partir desse momento, a sua consciência começará a desdobrar-se em todas as dez direções, mas o caminho terá sido só um. - Osho Zen: The Diamond Thunderbolt Chapter 9


Comentário:

A figura desta carta está nascendo de novo, emergindo de suas raízes presas a terra e criando asas para voar em direção ao ilimitado. As formas geométricas em volta do seu corpo mostram as muitas dimensões da vida que estão simultaneamente ao seu alcance. O quadrado representa a parte física, o que está manifesto, o conhecido. O círculo representa o não-manifesto, o espírito, o espaço puro. E o triângulo simboliza a natureza trina do universo: o manifesto, o não-manifesto, e o ser humano que contém a ambos. Você está tendo agora uma oportunidade para enxergar a vida em todas as suas dimensões, das suas profundezas às alturas. Elas existem lado a lado, e, quando descobrimos pela experiência que o escuro e o difícil são tão necessários quanto o claro e o fácil, passamos a ter uma perspectiva muito diferente do mundo. Ao deixarmos que todas as cores da vida penetrem em nós, tornamo-nos mais integrados.


Tarô Zen

http://www.osho.com/index.cfm