7 de set. de 2013

Ferir-me de beleza...

(...)

"Há em tudo um sentido para além da beleza: e que sinto ainda não consegui desvendar por fraqueza minha, falta de concentração. Parece que o mistério está ali, indefeso, prestes a rebentar, a dar-se, e que a culpa de sua negação é só minha.

Talvez que a beleza seja assim, transcendente. Contendo em si um sentido que não lhe pertence. Mistério que sinto para além do meu poder e que faz a dor da sua contemplação. A inatingível. Dura impossessão.
Talvez que ela seja aqui o único porto de abrigo. Mas aberto somente através do sofrimento. Porque a beleza é pungente.

E é esta a única marca da sua verdade."

in A cidade e o Rio 
de Dalila Pereira da Costa

2 de set. de 2013

Ascenção

- Rise -
Eddie Vedder

Such is the way of the world
You can never know
Just where to put all your faith
And how will it grow

Gonna rise up
Burning black holes in dark memories
Gonna rise up
Turning mistakes into gold

Such is the passage of time
Too fast to fold
And suddenly swallowed by signs
Low and behold

Gonna rise up
Find my direction magnetically
Gonna rise up
Throw down my ace in the hole...



29 de ago. de 2013

Da Sabedoria

"A palavra é um poder, um grande poder.

A palavra, se usada com profunda concentração,
tem o poder de materializar coisas.
Com a palavra, você pode dar a vida ou a morte;
você gera libertação ou aprisionamento;
o karma que te libera ou o karma que te aprisiona.

Por isso eu tenho insistentemente
lhe convidado a cultivar o silêncio
e a ancorar a presença.

O silêncio, como um sadhana
(prática espiritual regular),
pouco a pouco vai lhe ajudar a ancorar a presença,
para que a partir dela,
nasça o silêncio que é a eloquência de Deus;
aquele que vem com calma e tranquilidade,
com amor e sabedoria.

Tudo que nasce desse silêncio é oração;
 é música e poesia."

Sri Prem Baba

22 de ago. de 2013

UMA (Mesmo Acompanhada)

"Uma mulher - mesmo sozinha - 
é o mundo em movimento.

Tudo nela é circular como o universo. 
Tudo nela é criação como o divino." 

Alves Do Ó

17 de ago. de 2013

(Do Rapto de Hades)

O Resgate do Princípio Feminino
 
Leonardo Boff

O poder é uma das características fundamentais do masculino no homem e na mulher. O poder na forma de dominação, entretanto, representa uma patologia. Por isso, nossa civilização, estigmatizada pela dominação em quase todas as áreas, produz a inflação do masculino, do patriarcalismo e do machismo. São produtos do patriarcado o tipo de ciência que praticamos e o tipo de desenvolvimento que operamos. Ambos são reducionistas, fragmentados e excludentes da natureza e da mulher. Nesta forma, o poder-dominação não desumanizou apenas os homens, mas também as mulheres. Os homens recalcaram sua dimensão de anima e não permitiram que as mulheres realizassem sua dimensão de animus.

Em razão dessa errância, fica claro que a questão do masculino, nos dias de hoje, reside no feminino negado, reprimido ou não integrado. Para ser plenamente humano, o homem precisa reanimar nele o seu feminino e reeducar o seu masculino. Somente então podem ambos, homem e mulher, entreter relações civilizatórias, humanitárias e realizadoras do mistério humano feminino-masculino.

A grande tarefa civilizacional, talvez a mais urgente nos dias atuais, consiste no resgate do princípio feminino. Chamo atenção para o fato de que não falo de categoria feminino/masculino, mas de princípio feminino/masculino. Afasto-me decididamente da ideologia do gênero, sexista, baseada no sexo biológico, que constrói social e culturalmente as categorias do masculino e do feminino de forma dualista e excludente. Ela distribui os papéis, os valores e os antivalores: a criatividade, a atividade e a violência tributados ao masculino; e a passividade, a receptividade e a não-violência, ao feminino.

Precisamos ultrapassar essa visão excludente e entender a sexualidade num nível ontológico, não como algo que o ser humano tem, mas como algo que ele é. O masculino não diz respeito somente ao homem, mas também à mulher. O feminino não ganha corpo apenas na mulher, mas também no homem. Esse feminino representa o princípio de vida, de criatividade, de receptividade, de enternecimento, de interioridade e de espiritualidade no homem e na mulher. Portanto, trata-se de um princípio inclusivo e seminal que entra na constituição da realidade humana.

O resgate do princípio feminino junto com o do masculino propicia uma nova inteireza à humanidade, ao transcender as distorções na relação homem-mulher e ao ultrapassar o sexo biológico de pertença. Significa não somente libertação dos humanos, especialmente da mulher, mas também da natureza e das culturas não estruturadas no eixo do poder-dominação, equiparadas ao fraco e ao frágil - portanto, ao feminino cultural.

A recuperação do princípio feminino permite um processo de libertação mais integral e verdadeiramente includente, pois parte do feminino oprimido. O oprimido tem um privilégio histórico e epistemológico pelo fato de possuir uma percepção mais alta que inclui o opressor enquanto ser humano. O opressor exclui o oprimido, pois o considera uma coisa ou um ser humano menor, subordinado e dependente. A libertação deve começar pelo oprimido para acabar com o opressor. Só então ambos se encontram sobre o mesmo chão comum, como humanos, construindo juntos, na igualdade e na diferença, a sociedade e a história.

A inclusão do princípio feminino obrigará toda a cultura masculinizante a questionar seu paradigma fundacional. Ele radica-se no poder-dominação, hoje vastamente em crise. O pensamento da crise, no interior do mesmo paradigma, não pode trazer soluções. O veneno que mata não pode ser o remédio que cura. Os únicos que podem oferecer algo alternativo e terapêutico são aqueles que foram vistos como incapazes de pensar, por não serem suficientemente racionais e produtivos. Ora, os que pretendiam trazer as luzes (os iluministas) nos conduziram às trevas atuais. Os que se propunham a difundir a razão, a ciência e a técnica por todos os quadrantes nos estão conduzindo ao pior, à destruição e ao desaparecimento.

O princípio feminino é sanador e libertador, pois se move num outro paradigma e opera numa outra lógica. Seu paradigma básico é a vida, e não o poder; o respeito e a veneração pela vida, e não a agressão e a dominação. A lógica da vida não é a redução e o isolamento, arrancando os seres do seu meio real e analisando-os em si mesmos ou manipulando células, genes e microorganismos fora de seu ecossistema. A lógica da vida é a complexidade, é a teia de interações em todas as direções e em todos os lados, é a sinergia e a panrelacionalidade.

Ora, o feminino consiste na capacidade de viver o complexo, de elaborar sínteses, de cultivar o encantamento do universo, de cuidar da vida, de venerar o mistério do mundo, de elaborar um desenvolvimento com a natureza, e não contra ela, de alimentar o esprit de finesse para contrabalançar o esprit de géometrie.

O feminino - porque obedece à lógica do complexo e porque naturalmente é inclusivo - representa o único caminho para a humanidade, para um planeta sustentável e para a convivência pacífica e solidária entre o Norte e o Sul.

A introdução do princípio feminino representa um desafio ao paradigma machista, cujo desenvolvimento e prática técnico-científica implicou o domínio, a destruição, a violência, a expropriação e a marginalização da mulher e da natureza, hoje considerados supérfluos. O princípio feminino propicia uma economia política da vida, devolve importância à natureza, resgata o sentido da Terra como Grande Mãe, superorganismo vivo, Gaia e Pachamama. Ele se transforma num caminho não violento de interpretação e transformação do mundo, num reforço de todos os processos sinergéticos que respeitam a diversidade e que nela buscam convergências que interessam a todos, o bem comum humano e sociocósmico.

O homem que evoca em si e integra sua dimensão de anima incorpora, junto ao seu vigor, a ternura; junto ao trabalho, a gratuidade; junto à razão, a emoção; junto ao logos, o pathos e o eros. Ele emerge mais humano, relacional e liberto das malhas que o desumanizavam e desumanizam a mulher e a natureza. Agora, diferentes e juntos, podem construir o humano de forma mais dialética, tensa, dinâmica, aberta a novas e surpreendentes sínteses.
 

22 de jul. de 2013

Sobre o Amor e Outras Coisas


“A individualidade é bilateral, positiva e negativa; tem uma fase dinâmica e outra estática, e é, portanto, masculina e feminina, ou feminina e masculina de acordo coma relação existente entre “força” e “forma” em sua estrutura. A personalidade, porém, é unilateral e tem um sexo definido." (…) E diz ainda: “que a masculinidade e a feminilidade são sempre relativos nos planos internos, e tal como o vigor físico dos indivíduos que formam um par oscila num sentido ou noutro, o mesmo se pode dar com a sexualidade; assim, um homem pode ser puramente masculino em suas relações com uma mulher e puramente feminino, ou negativo, em suas relações com outra. A forma determina o sexo do indivíduo no mundo físico, porém a força relativa é a que determina nos planos internos; e este facto serve de chave para muita coisa”.

 Dion Fortune Marie-Louize Von Fraz
no seu livro Alquimia que também diz:

 “A experiência da anima para o homem e do animus para a mulher está de facto, inteiramente fora de uma experiência real com um parceiro humano. A extensão em que o parceiro humano desempenha um papel – apenas como uma imagem longínqua ou como uma conexão genuína – varia de caso para caso, mas essa experiência é a suprema experiência, que culmina na experiência de Si – mesmo.”

23 de jun. de 2013

A CISÃO DA CONSCIÊNCIA


A estrutura caracterológica do homem atual (que vem perpetuando uma cultura patriarcal e autoritária desde há entre 4 a 6 mil anos) caracteriza-se por um encouraçamento contra a natureza dentro de si mesmo e contra a miséria social que o rodeia. Este encouraçamento do carácter está na base da solidão, do desamparo, do insaciável desejo de autoridade, do medo, da angústia mística, da miséria sexual, da rebelião impotente, assim como duma resignação artificial e patológica. Os seres humanos adotaram uma atitude hostil àquilo que dentro deles mesmos está vivo, mas de que se afastaram. A origem desta alienação não é biológica, mas social e econômica e não é detetável na história humana antes do surgimento da ordem social patriarcal. 

 WILHEM REICH 
in: A Função do Orgasmo citado por 
Cacilda Rodrigañez Bustos, em O Assalto de Hades

5 de jun. de 2013

Fernando Pessoa

"Crucificação da Rosa -
ou seja no sacrifício da emoção do mundo
(a Rosa, que é o círculo em flor)
nas linhas cruzadas da vontade fundamental,
que formam o substrato do mundo,
não como realidade (que isso é o círculo)
mas como produto do Espírito (que isso é a cruz)."
 
"A dupla essência, masculina e feminina, de Deus - a Cruz.
O mundo gerado, A Rosa, crucificada em Deus"

 
 “No Quinto Império
haverá a reunião das duas forças separadas há muito,
mas de há muito aproximando-se: o lado esquerdo da sabedoria
– ou seja a ciência, o raciocínio, a especulação intelectual;
e o seu lado direito – ou seja o conhecimento oculto, a intuição,
a especulação mística e cabalística.”

 
 

21 de mai. de 2013

A Separação


Enquanto acreditarmos que precisamos de outra pessoa, causa, coisa, missão, para nos tornarmos inteiros, continuaremos a nos perder na cidade-fantasma de sentimentos, pensamentos e projeções. O universo inteiro está dentro de nós. A energia não se perde; ela transmuta para contribuir para a dança da evolução. 

A finalidade de estarmos encarnados é o regresso à origem. O sussurro do futuro está no feminino. É pela energia feminina que ocorre a manifestação da forma a partir da ausência de forma, mas, para produzir manifestação física, o yin funde-se com o yang e cria o impulso que move e articula as marés cósmicas. 

Só alcançaremos a fusão total com outras formas de consciência se estivermos imbuídos do poder de vida a ponto de o irradiarmos. Senão, vamos projetar ou sugar energias. Quando reforçamos nossa energia radiante, ao mesmo tempo, atraímos os outros e os tornamos livres para nos "seguirem". 

A limpeza do corpo emocional de antigos hábitos negativos é o pré-requisito para o autoconhecimento. Primeiro é preciso recuperar a integridade individual para depois correr o risco de nos rendermos a uma nova energia de fusão.

In: O EGO SEM MEDO
-Chris Griscom-

2 de mai. de 2013

REFLEXÃO

No desejo de união
buscamos a compreensão da unidade,
a integração das polaridades,
positivo e negativo, claro e escuro,
Sol e Lua, o que é divino ou terreno...
O mundo é uma estrela quando visto do espaço,
de um brilho único nos reflexos de seus mares...
Ao mesmo tempo, seres terrenos
e filhos divinos, girando pelo infinito...
Ao mesmo tempo, razão e sentimento,
dor e prazer, fúria e medo...
O desejo é de união, mas a busca
é por unidade, discernimento!
Apenas a percepção da dualidade
intrínseca à nossa mente nos reintegra 
à natureza e desta emana a certeza
fecunda de que a criação é una,
Mãe e Pai, Lua e Sol,
núpcias míticas, rotas místicas,
no espaço astral de meus pressentimentos,
de nossas convicções mais profundas, eu vejo:
A ÚNICA VERDADE É A CARIDADE!

UM AMOR PURO COMO A TERRA!!!

25 de abr. de 2013

O_Chamado

Mesmo que por mil vezes 
Tenha quebrado seus votos 
- 2x -

Não é de desespero a nossa caravana...

Mesmo que por mil vezes 
Tenha quebrado seus votos 
- 2x -

Não é de desespero a nossa caravana...

Venha, por favor, 
Seja você quem for

Errante ou 
Sedentário,
Delirante ou
Acomodado,
Herege ou
Espirituoso,
Servo  ou 
Orgulhoso,

Descobrem-se todos
Em dia glorioso:

Amantes do conhecimento!

Venham, não é de desespero
Nunca foi 
(A nossa caravana - coro)

Seja você quem for
Um roseiral em flor

Pois cada espinho 
Se embriagou de amor...

Mesmo que por mil vezes 
Tenha quebrado seus votos 
- 2x -

Não é de desespero a nossa caravana...

Mesmo que por mil vezes 
Tenha quebrado seus votos 
- 2x -

Não é de desespero a nossa caravana...

Letra: Thaís Marino 
- adaptada de poesia do Mestre Rumi
Melodia: Thaís Marino